sexta-feira, 21 de julho de 2017

Estação Esperança - Capítulo 1

25 de novembro. Essa era a data que estava nos calendários da loja. Sempre passava por ali, trocava a folhinha para atualizar a data, colocando o dia de hoje. Na verdade fazia isso sempre pela manhã, sei lá, gosto de começar o dia com essa informação ali, para todos verem que o novo dia começou. Mas de qualquer jeito eu tinha que fazer, porque senão ninguém faria.
Mas nesse dia 25 quando abri a pastelaria onde trabalho vi um senhor sentado no chão, achei que estava passando mal e logo perguntei se ele precisava de alguma coisa.
_O senhor está bem? Quer que eu lhe ajude?
_Obrigado rapaz - respondeu o velho com ar de cansaço - só estou deixando o tempo passar um pouco para voltar para minha casa. Minha filha brigou com seu marido, e ele acabou batendo em meu neto. Saí pois não aguentei ver a cena.
Fiquei com sentimento que alguns definem como dó do velhinho, pois não sabia se eu poderia ajudar de alguma forma...
_Daniel! - meu chefe falando aos berros me chamou - anda logo que já estamos atrasados para abrir a loja! Por um instante, fiquei na dúvida: continuava ali conversando com aquele simpático senhor ou entrava para satisfazer as ordens do meu patrão? Senhor Oswaldo, o dono da pastelaria repetiu o chamado. E o senhor que estava no chão pareceu compreender-me e disse:

_Vai lá meu bom jovem, entre e vai trabalhar Daniel, porque se esse seu chefe vier aqui fora te chamar é perigoso ele te demitir!

Tanto eu como ele sorrimos. Resolvi arriscar.

_Não posso ficar aqui fora, mas se o senhor quiser lhe ofereço um pastel. Aqui dentro podemos conversar. Afinal, o freguês tem sempre razão. E se quiser conversar... Terei que conversar!

Desta vez só ele sorriu mais alegre. Eu já tinha conseguido o que pretendia: alegrar um pouco aquele senhor, que pelo que pude perceber, havia estado chorando muito recentemente.

Ele aceitou e entrou na pastelaria junto comigo. Senhor Oswaldo estava na parte interna e não havia percebido que já estávamos com cliente e começou a esbravejar e gritar. Mas ficou sem graça quando viu que já havia uma pessoa no estabelecimento... Sorte a minha!
Senhor Oswaldo pediu desculpas para o Senhor, que fechou a cara. Sem comer o pastel que eu havia lhe oferecido, olhou para mim e pediu desculpas. Eu confesso que não entendi. Acho que ele se considerou responsável pela lamentável situação. Eu disse que estava tudo bem, e que esse era o jeito do Senhor Oswaldo e que eu estava acostumado. Mas ele lembrou-me:

_Lembra o por quê saí de casa agora a pouco?
_Sim, recordo!

_ Odeio pessoas ignorantes, pessoas insensíveis. Não gosto de injustiça. Não gosto de ser humano que trata seu semelhante como animais. Aliás, pior, porque os bichos não se ofendem mutuamente por orgulho, prepotência e arrogância.

Eu fiquei inerte, enquanto via o Senhor Oswaldo ficar calado naquela situação.

_Até mais jovem Daniel, Deus lhe abençoe!
Fiquei sem reação. Aquela situação deixou-me estático e o Senhor Oswaldo... Bem ele se retirou e foi embora. Naquele dia ele não voltou para a pastelaria.
Eu não sabia. Mas aquele senhor, na verdade era...

[...]

Não sei o que ele era. Talvez uma forma de me aproximar da pessoa que eu amo, e sempre vou amar. Talvez um sinal para reflexão sobre as atitudes do chefe descritas no texto:

"Odeio pessoas ignorantes, pessoas insensíveis. Não gosto de injustiça. Não gosto de ser humano que trata seu semelhante como animais. Aliás, pior, porque os bichos não se ofendem por orgulho, prepotência e arrogância."

Uma opção poderia ser, pelo fato do texto ter iniciado um mês antes, claro, algo em relação ao Natal. Talvez um Papai Noel, ou um bom velhinho que daria algum exemplo de vida e com o texto acabando de ser escrito um mês depois, dia 25 de Dezembro de 2012 (hoje). Seria uma bela história, mas ainda não teve fim. Devido à brigas e discuções sem fundamentos, o mês foi complicado, com impaciência e sem demonstrações de carinho, afeto e amor. Amor esse que eu queria demonstrar com uma criação nossa, um texto nosso, fazendo algo que sempre quis e sempre te pedi: algo juntos. Compartilhar. Somar. Crescer. Juntos.

Ao invés dessa minha vontade, meu Natal não foi tão perfeito. Passei sem você. Não tive nenhum contato com você. Nenhum contato, nenhuma ligação, nenhuma mensagem de texto. Natal.
O texto perdeu o seu sentido.

E assim acaba esse texto, ou não, ele pode ser modificado a qualquer momento. Dentro do meu peito, um coração sem um pedaço. Penso como vai ser se isso continuar assim. Carro consegue se mover sem seu combustível? Avião sem asas?


Um buraco, mas sem ter a certeza se o buraco é em relação à alguém ou à uma fantasia criada para imortalizar aquele alguém que um dia me fez correr no parque municipal para brincar de pega-pega, que me fez superar barreiras para ser feliz, que com uma simples cartinha minha sorria, se emocionava, me abraçava com vontade e orgulho de me sentir, alguém que não se importava com o tempo que estava falando comigo, alguém que se preocupava com a hora de ir para casa pra não ficar muito tarde, e que eu, mesmo falando o contrário, compreendia.

Chegando dia 26 já, mais que um dia inteiro sem falar com você. Dor. Dor que não é dependência, não é controle, não é prisão. Dor, por amar. Amor. O mais puro. Ingênuo. Que só espera algo em troca: Amor.

Um comentário:

Última Palavra

Eu não recordo qual foi a última palavra nem a última frase que você disse antes de partir... Eu não sei se isso é normal, mas sempre perco ...