- Papai, papai...
A voz ainda sonolenta da doce menininha apresentava um ar de susto e medo. Seu pai pôs-lhe a mão em seu rosto e lhe disse:
- Estou aqui minha princesinha!
Lúcio ficou surpreso com o
despertar de sua filha. Não fizera barulho algum. Resolveu passar no
quarto simplesmente para dar um suave beijo na testa de sua bela
princesinha, que já dormia com um ar angelical. Entretanto, não tinha
pretensão de acordá-la.
- Desculpe-me querida! Não queria acordá-la...
- Não me acordou papai... Eu estava tendo um pesadelo!
- Não se preocupe. Foi somente um sonho Angélica. Apenas um sonho...
- Mas foi ruim papai, muito ruim.
A voz da pequena criança, de
apenas sete anos de idade parecia não querer sair. Ela estava com um tom
de voz de quem quer chorar. Seu pai tentou acalmá-la, resolver
apertá-la em um forte abraço.
- Quer me contar o pesadelo agora?
Angélica sussurrou:
- Papai...
Ela relutou em prosseguir. Estava com os olhos demonstrando que o sonho, realmente a aterrorizara.
- Pode falar minha princesinha...
- Prefiro não reviver neste instante tudo de horrível que acabei de sonhar.
Constantemente, Lúcio se pegara
refletindo sobre o amadurecimento de sua princesinha. Cada vez mais ele
se interrogava sobre como ela estava falando como uma adulta, com
pensamentos e consciência de gente grande. Talvez, ela não estivesse
tendo a infância adequada.
- Tudo bem. Não precisa falar! Mas seja lá o que tenha sonhado, não se preocupe, foi apenas um sonho.
Neste momento a doce e inocente
criança, que estava deitada naquela confortável cama e coberta por um
espesso edredom amarelo com flores lilás e vermelhas, pegou a mão de seu
pai e segurou firme. Olhou para cima e viu dentro dos olhos do pai. Ele
esboçou um sorriso. Ela então disse:
- Papai: promete uma coisa para mim?
- Qualquer coisa meu anjo!
- Você promete que nunca vai fazer como a mamãe?...
Um nó se formou na garganta de
Lúcio. Não conseguia falar. Por um instante, parecia não saber se ouviu
realmente aquela frase. Ele pareceu indefeso, sentia-se sem chão. Sem
suporte, sem ter para onde correr, sem saber para onde olhar, sem saber
como reagir. Tentou falar, e proferiu as seguintes palavras:
- Não fazer o quê meu ano?
Suas palavras eram quase um
demorado suspiro, praticamente inaudível, percebido pela linda menininha
simplesmente porque a noite estava totalmente silenciosa.
- Papai, você promete que nunca vai morrer?
Com o silêncio do pai, Angélica ainda completou:
- Papai... Eu entendo que, às
vezes, eu não me comporto e que de vez em quando eu apronto e não sou
uma boa filha. Tem vez que eu até falo palavrão e faço má-criação... Mas
acho que isso não é motivo para você me deixar. Já perdi a mamãe. Não
quero ser abandonada por você também. Promete para mim que você nunca
vai me deixar papai, eu não quero sofrer de novo...
Lúcio simplesmente abraçou sua
filha e adormeceram ambos com um carinho imenso. Naquela noite, nenhum
dos dois disse mais nada. Lúcio não podia responder. Na verdade, ele não
sabia como responder. Resolveu acreditar que o tempo cicatrizaria a
ferida no coração de criança de sua princesinha.
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