Por que mais de 900 pessoas se mataram por causa deste homem?
Até os ataques de 11 de setembro,
a maior tragédia envolvendo ações deliberadas contra civis americanos teve
lugar em meio à floresta amazônica, no território da Guiana. Há exatamente 39
anos.
Em 18 de novembro de 1979, 918 pessoas morreram em
um misto de suicídio coletivo e assassinatos em Jonestown, uma comuna fundada
por Jim Jones, pastor e fundador do Templo Popular, uma seita PENTECOSTAL
CRISTÃ de orientação socialista.
Embora algumas pessoas tenham sido mortas a tiros e
facadas, a grande maioria pereceu ao beber, sob as ordens do pastor, veneno
misturado a um ponche de frutas.
Foi um fim trágico para um projeto utópico iniciado
em 1956, no estado americano de Indiana. Apesar de promover curas
"milagrosas" fraudulentas, Jones promoveu ideais igualitários, como
impor vestuário modesto para os frequentadores de cultos, distribuição de
comida gratuita e mesmo o fornecimento de carvão para famílias mais pobres no
inverno, o que atraiu um imenso contingente de fiéis de perfis raciais mais
diversos.
Em meados dos anos 60, o Templo Popular se mudou
para a Califórnia, um local mais apropriado para os ideais esquerdistas do pastor.
Nos anos seguintes, o movimento ganhou popularidade suficiente para que Jones
circulasse entre os poderosos - a primeira-dama Rosalynn Carter, por exemplo,
encontrou-se várias vezes com ele.
Mas a seita também despertou suspeitas e
investigações da mídia americana, que explorou relatos de dissidentes sobre um
suposto estilo messiânico e ditatorial do pastor. O escrutínio levou Jones a
buscar refúgio na Guiana, onde conseguiu permissão das autoridades locais em
1974 para arrendar um terreno em meio à selva e criar uma comuna longe de olhos
mais curiosos.
Jonestown, como o assentamento foi batizado, tinha
uma escola, bangalôs e um pavilhão central, além de espaço para que os habitantes
plantassem verduras e legumes. O pastor e centenas de seguidores se mudaram
para lá em meados de 1977. A única forma de contato com o mundo era um rádio de
ondas curtas. Houve relatos de que Jones promovia um regime ditatorial, marcado
por punições severas e pela presença de guardas armados para tentar evitar
fugas.
O pastor também avisava aos seguidores que os
serviços de segurança americanos estavam "conspirando contra
Jonestown", e que uma das soluções seria um "suicídio
revolucionário". Algo que, por sinal, teria sido ensaiado algumas vezes em
assembleias.
Em 1978, alertado pela preocupação de parentes de
integrantes da comuna, o deputado federal Leo Ryan viajou à Guiana com uma
delegação de 18 pessoas para visitar Jonestown, Depois de negociar entrada no
local, a visita ocorreu em 17 de novembro. No dia seguinte, Ryan e mais quatro
pessoas morreram a tiros em uma pista de pouso próxima ao assentamento. Poucas
horas depois ocorreu o suicídio coletivo.
Os relatos de sobreviventes falam em um "estado
de transe coletivo", mas uma sinistra gravação dos procedimentos, que
inclui discursos de Jones, contém gritos de agonia das pessoas envenenadas.
Quem tentou fugir foi morto.
Quando autoridades da Guiana chegaram a Jonestown,
o pastor foi encontrado morto com um tiro na cabeça, em uma posição que sugeriu
suicídio. Dos habitantes que estavam em Jonestown naquele dia, apenas 35
sobreviveram. Mas também são considerados sobreviventes pessoas como Laura
Johnston Kohl, que naquele dia estava na capital guianesa, Georgetown,
comprando mantimentos para a comuna.
"Nós
éramos visionários que deixaram para trás os confortos da vida urbana e se
mudaram para o meio da floresta para criar um modelo de comunidade para o resto
do mundo. Jim Jones era articulado para mascarar as partes dele que eram
corruptas ou doentes", explica Kohl, autora de um livro em que relatou
suas experiências no culto.
Quase quatro décadas depois da tragédia, Jonestown
ainda provoca polêmica na Guiana. O terreno da comuna foi
"reconquistado" pela floresta, mas há no país quem queira ver o local
explorado como ponto turístico, assim como acontece nos antigos campos de
concentração nazistas na Europa, por exemplo. Mas o governo do país tem se
recusado a considerar a possibilidade.
ORIGEM: http://www.bbc.com/portuguese/noticias/2015/11/151118_jim_jones_massacre_fd
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